Ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara é preso a mando de Moraes

Ministro do STF determinou abertura de inquérito contra o advogado do réu, Eduardo Kuntz, que disse ter conversado com Mauro Cid

ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o coronel do Exército Marcelo Costa Câmara
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Marcelo Costa Câmara (foto) é coronel do Exército e foi assessor de Jair Bolsonaro
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O ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL) Marcelo Costa Câmara foi preso nesta 4ª feira (18.jun.2025) e está sob custódia da PF (Polícia Federal). A prisão preventiva foi decretada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes depois de Câmara descumprir medidas cautelares impostas para sua liberdade provisória, em maio de 2024.

Segundo Moraes, o coronel do Exército usou as redes sociais e se comunicou com outros investigados. O advogado do militar, Eduardo Kuntz, informou que conversou com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, pelo Instagram sobre o acordo de colaboração premiada, em um pedido para anular a delação de Cid. Leia a íntegra da decisão (PDF – 290 kB).

O magistrado também determinou a instauração de um inquérito para apurar Câmara e o seu advogado pela suposta prática de obstrução de investigação. Ele determinou que os 2 e Cid prestem depoimento à PF em até 15 dias.

“O auto de investigação defensiva criminal nº 10405.11645/2023, juntado pelos advogados de Marcelo Costa Câmara, indica que o réu, por intermédio de seus advogados, tentou ‘a obtenção de elementos de informação complementares e destinados à construção de acervo probatório e instrutório’, consistindo, no caso concreto, na obtenção de informações sigilosas acerca do acordo de colaboração premiada do corréu Mauro César Barbosa Cid”, escreveu Moraes.

Marcelo Câmara é réu na ação penal no Supremo por tentativa de golpe de Estado em 2022. Segundo a denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República), ele faria parte do núcleo de operações da organização criminosa que queria impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi preso na operação Contragolpe em janeiro de 2024, mas teve a liberdade provisória concedida em maio do mesmo ano.

ENTENDA

Na 2ª feira (16.jun), o advogado apresentou a defesa prévia do coronel ao STF e pediu a anulação do acordo de colaboração premiada de Mauro Cid por “falta de voluntariedade”.

No documento, Eduardo Kuntz afirmou que foi contatado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro por meio do perfil @gabrielar702 no Instagram. O advogado alegou que achou que Cid teria feito contato para trocar a sua defesa técnica. Kuntz disse que o militar telefonou e enviou uma foto comprovando que era ele.

Segundo o advogado, eles conversaram sobre o processo de delação “para tentar verificar a legalidade do procedimento. Se foi tudo gravado, se houve pressão, o quão espontâneo teria sido”.

Ao pedir a anulação do acordo de delação, a defesa de Marcelo Câmara argumentou que não houve voluntariedade de Cid e pediu que a Corte desconsiderasse as provas obtidas a partir do acordo. Kuntz argumenta que em suas conversas, Cid relatou que os delegados da PF que tomaram seu depoimento “queriam colocar palavras” em sua boca.

O advogado também declarou que se encontrou com o tenente-coronel na Hípica de Brasília para “tentar passar a limpo essa história de ‘desabafo’, mentiras, ação controlada”, em março de 2024. Kuntz disse que a conversa durou duas horas e os 2 falaram sobre as investigações em curso e o acordo de colaboração premiada.

Ao relatar os encontros ao STF, a defesa de Câmara afirmou que tinha a intenção de agir em prol dos interesses de seu cliente sobre a “versão oficial” da delação de Cid. Segundo Moraes, no entanto, ele “transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado”.

Segundo o ministro relator, “as condutas noticiadas indicam que o réu e seu procurador tentaram obter os dados sigilosos relativos ao acordo de colaboração premiada, por meio de conversas realizadas pelo Instagram e por meio de contatos pessoais na Sociedade Hípica de Brasília, no período em que o réu Marcelo Costa Câmara estava preso”.

DELAÇÃO DE CID

A defesa de Bolsonaro também solicitou a anulação do acordo de delação de Mauro Cid. A solicitação teve como base uma troca de mensagens divulgada pela revista Veja, que indicariam que o tenente-coronel mentiu em depoimento à Corte. Moraes negou o pedido.

Os advogados do ex-presidente argumentaram que as conversas mostram que Cid violou o acordo, “já que se expõe o fato de que o delator quebrou o sigilo imposto à sua delação, bem como mentiu na audiência na qual foi interrogado, o que é causa para a rescisão”.

A reportagem, publicada na 5ª feira (12.jun), apresenta capturas de tela que mostram conversas entre o ex-ajudante de ordens e uma pessoa próxima a Bolsonaro. Segundo a Veja, o militar teria usado o perfil @gabrielar702 para discutir os bastidores do inquérito.

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